Fiquei pensando em um lugar que não precisa ser perfeito,
Só que seja bom o suficiente.
Mas pra onde vou?
Vou-me embora pra Pasárgada
Posso não ser amigo do rei mas posso conhecê-lo e me tornar um bom súdito.
Não sou sempre infeliz aqui, mas lá eu poderia ser feliz sempre
Acho que para isso não precisarei ser tão inconseqüente
Provavelmente não serei muito aventureira, porque eu nem gosto muito de praticar esportes
E também não terei paciência de ouvir histórias
Vou preferir lê-las ou contá-las a quem se interessar.
Dizem que por lá é civilizado e seguro
E também há facilidade de se impedir uma concepção.
Existem Bebida e prostitutas a vontade...
Mas a verdade é que não preciso de nada disso pra ser feliz
Porém para muitos Pasárgada é um paraíso
Mas meu medo é de quando eu estiver triste não tiver com quem conversar
O rei não é meu amigo e com toda certeza não me ajudará
E então a quem vou recorrer em um súbito desejo de me matar?
Vou ficar por aqui mesmo , pois aqui tenho amigos
aventura suficiente, civilização e bons livros.
Lilian Lima
Poema de Manuel Bandeira Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra PasárgadaLá sou amigo do reiLá tenho a mulher que eu queroNa cama que escolherei
Vou-me embora pra PasárgadaVou-me embora pra PasárgadaAqui eu não sou felizLá a existência é uma aventuraDe tal modo inconseqüenteQue Joana a Louca de EspanhaRainha e falsa dementeVem a ser contraparenteDa nora que nunca tive
E como farei ginásticaAndarei de bicicletaMontarei em burro braboSubirei no pau-de-seboTomarei banhos de mar!E quando estiver cansadoDeito na beira do rioMando chamar a mãe-d'águaPra me contar as históriasQue no tempo de eu meninoRosa vinha me contarVou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudoÉ outra civilizaçãoTem um processo seguroDe impedir a concepçãoTem telefone automáticoTem alcalóide à vontadeTem prostitutas bonitasPara a gente namorar
E quando eu estiver mais tristeMas triste de não ter jeitoQuando de noite me derVontade de me matar— Lá sou amigo do rei —Terei a mulher que eu queroNa cama que escolhereiVou-me embora pra Pasárgada.
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